Colherada Mineira: metendo a colher em assuntos culturais, sociais e
ambientais
Jornalista dorense coordena projeto que utiliza a fotografia e a
literatura para despertar olhares sobre a cidade, sua gente e suas paisagens.
Ana Lúcia Lopes: preocupação com a cultura e a sociedade. |
A
fotografia e a literatura, enquanto formas de arte, despertam sentimentos nos
seres humanos. Por acreditar nisso, a jornalista Ana Lúcia Lopes idealizou o
projeto cultural Colherada Mineira – Literatura e Fotografia na medida certa,
com recursos da Funarte (Fundação Nacional de Artes), através do Edital
Microprojetos Rio São Francisco.
O
projeto foi iniciado em agosto de 2012 e contou com várias etapas, entre elas a
criação, a divulgação e a realização de oficinas para 16 participantes com
idades variadas. Ana buscou utilizar a mão-de-obra e os serviços especializados
da própria cidade, desde a criação da identidade visual do projeto até a impressão
de todo o material.
A
principal metodologia usada no projeto foi a realização de oficinas, que
despertaram o olhar crítico e sensível dos participantes, com aplicação de
técnicas de fotografia – válidas, inclusive, para câmeras de celulares – e
expressão corporal. Ana Lúcia fez um curso de
especialização em fotografia digital, no Espaço da Fotografia, em São
Paulo, exclusivamente para as oficinas, para que pudesse levar o conhecimento
com mais profundidade e de maneira didática aos participantes. “Tudo foi feito
de maneira simples, mas com profundidade e com a utilização de olhares
apurados, como o de Sebastião Salgado”. A jornalista, que também é Coach,
aplicou técnicas de coaching, para que cada pessoa presente pudesse descobrir
os motivos de estarem ali. “Tudo foi possível porque contamos com o apoio e a
aceitação de todos. Sozinha nada seria possível”, reconhece Ana.
Uma
das fases finais do projeto será a realização de exposições fotográficas, que
exibirão ao público os registros feitos pelos participantes. O primeiro evento
deste tipo acontecerá neste domingo, dia 8 de setembro, de 8 às 14 horas, na
feirinha dominical que acontece próxima à Praça da Igreja Matriz, ao lado do
ponto de táxi. Serão 26 fotografias acompanhadas de legendas, de autoria dos
participantes. A exposição seguirá em outras datas, em caráter itinerante (veja
agenda abaixo).
O
Colherada Mineira, enquanto projeto patrocinado pela Funarte, tem previsão para
terminar neste mês de setembro, mas Ana Lúcia vai dar continuidade a ele, por
iniciativa própria.
Paisagem natural: registro de Sueli Santos. |
Acompanhe
a entrevista que o blog fez com Ana Lúcia:
O projeto cultural Colherada Mineira utiliza duas linguagens diferentes
para envolver os participantes na realidade de Dores do Indaiá e região: a
literatura e a fotografia. Por que você decidiu utilizar essas formas de
comunicação e como elas tem sido aplicadas no projeto?
A escolha dessas duas maneiras de aprender foi por acreditar e
vivenciar que a fotografia e a literatura despertam “sentimentos” em nós,
humanos. A fotografia ativa o olhar, e este faz as pessoas perceberem o que
está à sua volta, as belezas, as necessidades, as culturas, as artes e sua
gente. E a literatura possibilita a reflexão de toda a observação, de tudo que
os olhos enxergam. Acredito que não basta enxergar ou olhar para algo, é
preciso questionar, valorizar, refletir e até mesmo expressar essas análises e
esses sentimentos. Por isto, e por experiência da minha profissão como
jornalista, utilizei essas duas formas de comunicação. Muitas coisas são belas,
mas com a ativação do olhar elas passam a ser observadas. Agora, quando
acompanhadas de uma poesia, um texto, uma legenda, uma análise... elas se
tornam belas, apreciadas, valorizadas e até mesmo questionadas. Acredito que o
olhar e a expressão do que ele desperta faz com que as pessoas expressem o que
sentem, e poder expressar o que sente é algo nobre e que merece ser
compartilhado e – por que não? – ser aplicado em um projeto como este.
O
estudo dos planos corporais foi apresentado nas oficinas
teóricas, que também contaram com muita reflexão.
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O projeto buscou ativar a sensibilidade de
cada um a partir da sua realidade, dos seus sentimentos e daquilo que gostam de
fazer ou olhar. Mas, utilizamos técnicas de fotografia, desde como cuidar do
equipamento fotográfico, à postura para tirar uma foto, as fotos possíveis,
técnicas de como expressar no registro fotográfico a grandiosidade de algo ou o
inverso, aprenderam regras dos terços para ativação de um registro fotográfico
com precisão. Também foi convidada para fazer parte do projeto a profissional
de ciências sociais e de artes cênicas, Poliana Reis, que contribuiu com o
estudo da visão, a utilização da música para a busca do “eu” melhor, e assim a
contribuição das artes cênicas para que os integrantes pudessem compreender
sobre plano baixo, médio, alto e altíssimo em um registro fotográfico. Os
participantes puderam compreender que uma foto é mais que apertar um botão, é
preciso ter técnica, postura e aquecimento corporal, o cuidado com esse corpo,
com as mãos, a saúde da mente para refletir e buscar novos olhares e,
finalmente, expressar a sua visão através do registro, através de uma
fotografia e assim valorizar a cultura local, o povo, a beleza e até mesmo
aquilo que parece despercebido. Mas, também buscamos, no projeto, valorizar o
mundo de cada um. Os participantes tiveram a liberdade de trabalhar com aquilo
que tem intimidade e/ou liberdade. Para isto, realizamos aulas práticas na rua
à luz solar, com o uso de sombras, nas praças, na Fazenda Santa Fé e durante a
Festa do Rosário, pelas ruas da cidade.
No
decorrer do projeto, quais foram os maiores desafios que você precisou
enfrentar, como coordenadora? E as surpresas mais agradáveis?
O projeto é recheado de desafios, desde o
momento da escrita até agora, nesta fase em que estamos, que é de realizar as
exposições fotografias e literárias de maneira itinerante. Os grandes desafios
não foram dolorosos, pelo contrário, foram de muito aprendizado. E as
consequências desses constantes aprendizados foram surpresas muito agradáveis.
A aceitação do patrocinador oficial, a Funarte, dos participantes, o apoio da
administração da cidade e de pessoas como o Ronaldo Costa, Cristina Sousa, João
Paulo Noronha, Mara Barroso e cada participante que ajudou na divulgação e
levou tudo muito a sério. Tudo foi possível porque contamos com pessoas que acreditaram
no projeto, desde a parte de criação da identidade do projeto, feita pelos
profissionais da Agência Ponte, como as pessoas da cidade, amigos e familiares.
A melhor de todas as surpresas é ver a cidade que você ama registrada através
de fotos e ouvir dos participantes coisas como “Nossa, aprendi tanto!”, ou
simplesmente um “Muito obrigado, Ana”.
Em aula prática, a turma visitou a Fazenda Santa Fé,
onde entrou em contato
com o cerrado e a
história local.
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O
projeto incluiu trabalhos em campo, como a visita à centenária Fazenda Santa Fé
e o registro da Festa do Rosário, estimulando os participantes a conhecerem –
ou conhecerem melhor – dois atrativos turísticos e culturais de Dores do
Indaiá. Como essas ações podem contribuir para a divulgação do turismo e da
cultura locais?
Sim, visitamos a Fazenda Santa Fé, registramosa
Festa do Rosário e também houve uma aula prática na Praça dos Coqueiros. Além
disso, os participantes iam enviando fotos que postaram nas redes sociais para
mostrarem o quanto já tinham mudado, ativado ou melhorado o olhar fotográfico
sobre a cidade. Acredito que podemos contribuir com o turismo e a cultura local
porque o conhecimento está através do olhar também e os registros fotográficos
e os sentimentos dos participantes traduzem que a cidade é um local especial e
que há coisas únicas e que não podem deixar de ser “saboreadas” e “colhidas”.
Temos muito ainda para fazer, mas os
primeiros resultados estão surgindo. Quem sabe um dia possamos contribuir de
maneira melhor para os circuitos turísticos, por exemplo. Vontade e olhar para
isto temos de sobra (risos).
Agora, para o mês de setembro temos as
exposições fotográficas e literárias que irão traduzir essa beleza do nosso
local. Para outubro já temos o agendamento de uma visita dos participantes do
Projeto Colherada Mineira na Aldeia Indígena Kaxixó, na região de Martinho
Campos, também em Minas Gerais.
Em sua opinião, enquanto educadora, qual foi o resultado mais
importante gerado pelo projeto? Quais são os desdobramentos destes resultados
na comunidade, de maneira prática? Existe uma preocupação social?
Os resultados ainda não foram todos gerados, mas o que já podemos ver
são os seguintes: a concretização de um sonho, o apoio das pessoas da cidade, o
crédito dado pelo patrocinador oficial, a Funarte... Pessoas que se identificam
com o mundo da fotografia e que viviam na mesma cidade puderam se aproximar,
pois apesar de viverem na mesma cidade e esta ser pequena, as pessoas não
trocavam essas experiências. Agora formou
essa rede de amizades e de trocas de aprendizados, de indicação de sites, de
estudos. Também aconteceu a participação e o empenho de todos para que a
exposição fotográfica fosse possível. Surgiu, ainda, o Clube da Fotografia,
onde os participantes agendam passeios e encontros para fazerem registro
fotográficos de pontos da cidade.
Acredito, sinceramente, que novos desdobramentos serão possíveis. Tudo
é uma questão tempo, dedicação e de cuidado, além do comprometimento dos
integrantes, mas tudo de maneira leve e com o sentimento de fazer algo por
prazer, por desejo de se expressar e comunicar através do registro fotográfico
ou através de seus pensamentos colocados em palavras, poemas ou simples frases.
Há uma preocupação ambiental , cultural e social. Ambiental no sentido de preservar o meio
ambiente, apreciar a natureza e usar os registro para denunciar também.
Cultural no sentido de valorizar e compartilhar a cultura da região e social no
sentido de formar essa rede de pessoas que se respeitam, trocam opiniões,
aprendizados, ideais e que possam questionar, denunciar e se expressar.
Na
Praça dos Coqueiros, os participantes do projeto
registraram um patrimônio
dorense e aproveitaram
para verificar estado de conservação do local.
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O objetivo da mostra terá um formato
itinerante por possibilitar que públicos diferentes possam olhar as fotos, para
que possamos compartilhar, para que as pessoas possam analisar, fazer seus
comentários e conhecer o projeto e, acima de tudo, saber que o lugar onde vivem
é lindo e que tem muitas coisas bonitas para serem colhidas, quer na natureza,
na cultura ou na sua gente.
Sobre a expectativa dos participantes, a
grande maioria está interagindo na rede social, por e-mail ou por telefone de
maneira carinhosa e com a ansiedade comum e sadia de saber que outras pessoas
vão ver um trabalho que foi feito. Espero de verdade que a população também
curta essa exposição e cada frase dos participantes.
O
projeto Colherada Mineira terá continuidade? Como e onde?
Espero que sim, esse é o objetivo. Tudo em seu tempo, passo a passo,
com cuidado e com carinho.
AGENDA DO PROJETO COLHERADA MINEIRA
Exposição Projeto
Colherada Mineira
Dia 8/setembro - Das 8h
às 14h - Domingo - Na Praça da Feirinha (Próximo do Ponto de Táxi da Matriz)
Depois a Exposição do Colherada Mineira vai seguir de maneira itinerante pela cidade. Acompanhe as datas:
Dia 11/Setembro - A partir das 18h - Na Escola Irmã Luiza de Marilac
Dia 12/Setembro - A partir das 18h – No Colégio Municipal São Luís
Dia 13/Setembro - A partir das 17h - Na Praça Alexandre Lacerda Filho
Depois a Exposição do Colherada Mineira vai seguir de maneira itinerante pela cidade. Acompanhe as datas:
Dia 11/Setembro - A partir das 18h - Na Escola Irmã Luiza de Marilac
Dia 12/Setembro - A partir das 18h – No Colégio Municipal São Luís
Dia 13/Setembro - A partir das 17h - Na Praça Alexandre Lacerda Filho
Em outubro/2013 – visita
à Aldeia Indígena Kaxixó, em Martinho Campos
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